24/07/2012

Sem segurar

Tudo por equilíbrio, por um passo, pela segurança de um abraço. E lá vem aquela que anda na corda bamba encarando a queda. Vem sem respirar, com os pés apertados em um nó de medo, os olhos ofegantes e o peito encolhido. Melhor seria ver a equilibrista, que leve e reta nunca cogita cair. No máximo balança, só pra não perder o ritmo doce do andar nas alturas. É uma beleza precisa, ela vai chegar. Mas quem vem, vem cambaleando. Parece uma queda a cada passo. A corda palpita. Os pés duram uma eternidade no ar, enquanto o alívio se esvai em segundos. É feio de ver, mas é o que temos à frente dos olhos. Afinal, ela caminha. Torta, tensa e imprecisa. Um dia a corda há de acabar. E então volta o chão onde o pé, aliviado, se espalha. Esse pé descalço e ferido guardará cicatrizes de lembrança e calos com resquícios do suor da nuca e sal dos olhos. Quem balança a corda não sente a adrenalina e nem o peso nas pernas, muito menos o vácuo que invade o corpo em forma de tremor. São trinta metros de corda enroladas embaixo do colchão. Não é fácil se manter na confiança do chão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário