06.08.08

Uma voz ordenava logo atrás dos meus ouvidos: “Corre! Corre!” E eu obedeci o mais rápido que pude. Tentando pular os degraus em uma espécie de imitação cineasta. Sentia-me tão livre e leve! Corria desesperadamente escadas abaixo, não por medo, mas por diversão. Era estranhamente cômico ouvir os berros do cara rabugento andares acima: “Voltem aqui seus moleques! Ah se eu pego vocês!” E as gargalhadas ecoavam nos pés dos meus ouvidos, debochadas gargalhadas que exaltavam aquele espírito rebelde. O engraçado é que não me lembro de já ter sido rebelde um dia. Mas o que importa? Ali eu era o que quisesse ser.

Um tropeço me levou ao chão e esperei ser soterrada pelos meus cúmplices de fuga. Mas não. Eles tinham desaparecido, assim como a escadas e os gritos ranzinzas. Foi quando outros gritos, estes quase que em uníssono eclodiram em algum lugar ali perto. “Abaixo a ditadura da burguesia! Abaixo a repressão!” Sai seguindo o barulho, andando sobre o chão pedregoso. E em um segundo de consciência percebi onde eu tava, o lugar que eu tanto amo. “Nunca tinha sonhado com o Reviver antes.” Dei de cara com uma multidão na praça geralmente cheia de hippies e turistas. Mas hoje não havia hippies, muito menos turistas. Mas no meio da confusão, um terno preto, gravata azulada, camisa branca, calça social e sem sapatos... O que diabos meu pai tava fazendo ali? Berrando feito um jovem ingênuo e otimista? Não me lembrava dele já ter dado um de rebelde um dia. Mas o que importa? Afinal ali ele também podia ser o que quisesse.