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Alguém pronunciou meu nome e logo abandonei meus cabelos densamente cacheados para atender ao chamado. Ergui os olhos ao encontro do espelho longo e retangular bem a minha frente, no qual pairava meu reflexo fino e desbotado. Estava ridiculamente pálida. O chamado era constante, baixo demais para estar perto, alto demais para estar longe, parecia vir de dentro. E vinha, de dentro do espelho. A imagem acomodava-se a diagonal direita da minha, em um canto. Demorei alguns segundos para entender o que via: alguém se segurando em uma corda composta de um emaranhado de fios de linho era suspenso sobre um vão. Seus pés contorciam-se na tentativa de entrelaçar a corda. Era inútil, não tinha força suficiente. Do vão brotavam sombras de chamas que tomavam conta das paredes dando um ar fantasmagórico ao ambiente. Levei um sobressalto com o aumento do tom da voz, o chamado se transformou em gritos estridentes que adentraram minha cabeça e me impossibilitaram de pensar com clareza. Eu sabia que tinha que agir, mas meus olhos estáticos fitavam a cena arregalados. Meu corpo inerte permanecia inerte ao recusar as ordens do meu pensamento. Da boca nada saía, impossível gritar. Por um segundo consegui dominar meus movimentos e levei meus olhos de volta a minha imagem. Ela sorria, deliciava-se com a mais gostosa das gargalhadas, cinicamente estava feliz, enquanto a pessoa, agora identificada, esbravejava contra o fogo crescente. Do outro lado meu corpo se debatia na tentativa de agir, como a um assassino em sacrifício. Era perturbador ver-me debochando pela minha própria incompetência e fraqueza. Exausta parei. Os braços caíram paralelos ao corpo. Os olhos crápulas fecharam-se enquanto outros se abriam ao chamado do despertador.