Era um fusca velho antigo, permita-me a redundância. Deve ter sido branco um dia, agora todo corroída mal se podia ver umas lasquinhas da tintura encardida. A ferrugem se misturava com o preto latão. Lentamente vinha caminhando rua abaixo. A cada giro seus pneus relinchavam sobre o asfalto. Passou pela nossa casa, deu ré e entrou no terreno do lado. Eu observava tudo da janela do quarto, tamanha falta do que fazer. O motorista manejava a coisa com certa habilidade, devia ser acostumado com os solavancos que o carro dava aqui e acolá. Tinha o jeitinho certo pra fazer o troço funcionar. Já dentro do terreno acelerou o máximo que pôde, o que não foi muito na verdade, acelerou e foi de encontro ao muro no final do terreno. Uns poucos metros naquela ínfima velocidade mal deu pra amassar o capô. O motorista abriu a porta, desceu do carro, chutou o que restava do pára-choque e saiu cambaleando em direção ao meu portão. O rapaz tocou a campainha sem cerimônias. Eu, que esperava por aquela chamada a cada segundo do dia, corri até a entrada. Era meu filho, voltando pra casa.