22/11/2009

Pingos




Eu sempre fui perseguida pela magreza. Sou assim desde a minha primeira memória guardada aqui dentro. Nunca gostei disso. Sou o orgulho em forma de ser humano. O que uma coisa tem a ver com a outra? Explico já. Magreza pressupõe fragilidade. Frágil pressupõe fraqueza. Por isso desde cedo eu treinei para bater forte. "Que mão pesada tem essa magrinha." Não que eu seja efetivamente forte. Mas ninguém precisa pensar o contrário.

Coincidência. Entra minha mãe no quarto. Toda torta tentando equilibrar a bandeja e segurar a maçaneta da porta. Mãe de gente magrela á assim mesmo, se acostuma a ficar empurrando comida o tempo todo. E o pior é que só porque a mãe tem uma filha desprovida de carnes acha que todo o resto do mundo tem que comer junto. Amigos em geral sempre comentam que aqui em casa comem mais do que o normal. E ai deles se não comerem!

A comida. Uma caneca do Banco do Brasil, linda por sinal, com nescau quente. Bem fraquinho, quase só o leite. Meu fígado ainda vai passar mal de tanto minha mãe agorar. Eu gosto de nescau forte oras, o fígado que procure aguentar. Um pedaço monstruoso de bolo formigueiro, meu preferido. Geladinho. A metade da baguete que eu não comi no café da manhã e um pacotinho de Club Social sabor pizza. Adoro Club Social, mas o de pizza é um atentado contra meu singelo paladar. Esse é o lanchinho! Isso porque não fazem duas horas que eu fui praticamente obrigada a jantar. Doce ilusão comer tudo isso. Nem cabe!

Lembrança. A bandeja me fez lembrar das manhãs chuvosas de janeiro. Na época que eu (e todo mundo) ainda não conhecia o fabuloso aquecimento global. As chuvas coincidiam com as férias, agora elas tão chegando mais tarde e coincidem com as aulas. Talvez as férias tenham ficado mais curtas, não sei. Dormir tarde era uma aventura. Ver o sol nascer, uma vitória. Mal sabia eu que uns anos mais tarde vitória seria conseguir dormir! E acordar tarde era um fato. Mas como minha mãe é mãe de uma magrela, ela constatemente reclamava por eu perder uma refeição. Acorda tarde, não toma café e ainda almoça pouco! Brigar não resolveu. Com a sabedoria que só as mães tem ela passou a levar o café na cama pra mim. Todos os dias, durante todo o janeiro. Eu lerda de sono me sentava na cama e com a bandeja no colo tomava o suculento café da manhã na companhia graciosa da minha mãe. Ela ficava ali sentada na minha frente, esperando eu comer tudo. E a chuva la fora aconchegante. Terminava o café, afastava a bandeja pro lado da cama e pronto, voltava pro meu sonho bom. E as vezes ainda aproveitava o colo de mãe. Aproveitava não, aproveito.

Observação. Quando contei isso pra um amigo ele me chamou de mimada. Discordei na hora. Mimada eu seria se na bandeija minha mãe levasse matéria. Mas o que ela levava era carinho. E eu vou levar um dia para ela também.

4 comentários:

  1. Que fofura! Concordo contigo, carinho não é mimo... adorei a cadeia de lembranças que tu construíste. Senti que elas eram minhas também =)

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  2. ééguas doido eu imaginei a cena, serio!! auhsuahsuashuahsuahsauhs

    aqui em casa minha mae "briga" p eu parar de comer!!!
    poxa cara! =(

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  3. tbmm me imaginei essa cena! uaehuaeheuhaeueh

    aqui eu tbmm tenho ehh q parar de comer, como mtas coisas nao saudaveis qndo to soh estudando.. aiai x)

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  4. LINDO pô :D Invejei cada sentimentozinho que tu escreveu. Digníssimo de um livro de crônicas :)

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