11/12/2010

Degustar-se

Uma mesa comprida o suficiente para não se saber o fim e o começo. A todo instante novas criaturas se faziam presentes. Desconfiados, como se estivessem ali por engano. Enganados por achar que suas juras de perdão no último suspiro lhes livrariam da refeição de si mesmos.
Um anjo, um espírito, um garçom:

- Estes são os resíduos da tua estupidez. Senta-te e bebe.

Um bom inferno seria aquele que obrigasse cada um a beber sua arrogância. Eu adoraria assistir alguns infelizes engasgados. Sufocados pelo gosto da soberba. Quente, pastosa e apimentada. Que queimem os lábios detestáveis que tantas ignorâncias já cuspiram ao vento!
Quantas taças seriam necessárias? Quantas doses suportaríamos? Primeiro, apenas o gosto amargo nos incomodaria. E como toda estupidez, seríamos sufocados pelo seu acúmulo. A boca espumante pelo efervescente encontro entre o que se tenta engolir e o que tenta escapulir. Até não haver mais espaço entre os orgãos. O sangue coagular. Overdose de si mesmo. O fluido pastoso agarrado à mandíbula. O ego apodrecido. A decomposição da prepotência. Faltaria ar por excesso de gordura. Não faltaria alimento.

-Engole.

Auto canibalismo.
Alimentar-se do próprio veneno.
Um eterno afogamento em si mesmo.
Agradeço à deus por eu não ter o poder do diabo.

Um comentário:

  1. doidoooo

    "agradeço a Deus por n ter o poder do diabo." nunca pensei nisso por esse angulo!! caracas vaca, parabéns. Tu n suporta mesmo aquela pessoa! uahsauhsuashuahuhs

    bjo, fernanda.

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